Numa opinião escrita no correio da manhã, o prof. Paulo Morais faz um retrato fidedigno, da iliteracia que grassa em Portugal no domínio da Matemática. E conclui muitíssimo bem na nossa opinião, que essa iliteracia, manifesta-se na ignorância que a população em geral tem perante por exemplo as contas públicas, o que nos trouxe em parte ao estado em que estamos. Não é de estranhar que em Portugal sempre que algum governante decide "fazer contas" recebe logo o epíteto de "tecnocrata"!
Um povo matematicamente literato, nunca deixaria que os contribuintes pagassem os passivos do BPN (pois um matemático sabe muito bem quantificar 7 mil milhões de euros), nem nunca deixaria que as famigeradas PPP fossem avante.
Transcrevemos na íntegra o artigo do prof. Paulo Morais:
O divórcio entre os portugueses e a matemática tem a
sua origem num sistema de ensino que não acautela devidamente esta área
do conhecimento.
A formação em matemática tem
duas especificidades. Por um lado, a aprendizagem é sequencial. Não se
compreende a fase seguinte sem dispor dos conhecimentos prévios, ou
seja, as bases, os alicerces em que assentarão os saberes subsequentes.
Claro que quando falham as bases, falha toda a progressão. Quem não
entendeu a matéria do sétimo ou oitavo ano de escolaridade dificilmente
recuperará mais tarde. Por outro lado, nesta ciência os conhecimentos
chegam aos alunos apenas através do sistema de ensino, das aulas. Não há
estímulos exteriores à aprendizagem. Contrariamente a outras áreas,
como a história, as línguas ou as artes, em que há aquisição de
conhecimentos através da televisão, a ler jornais ou em viagens e
visitas a exposições – na matemática só se adquire conhecimento na
escola. Se esta falha, falha tudo.
E infelizmente o sistema de ensino
não tem garantido a devida qualidade dos professores. Um mau professor,
que não consiga transmitir devidamente o saber, quebra a cadeia de
conhecimentos e impede a progressão nos anos seguintes. Falhando um elo
na cadeia, esta quebra e fica destruída a carreira de aprendizagem
talvez para toda a vida. Num só ano, um mau professor pode prejudicar a
vida de dezenas de alunos. Os efeitos em termos da estrutura de recursos
humanos do País são desastrosos. Muitos dos que poderiam ter ido para
ciências ou engenharia – e apenas para fugir às matemáticas – vão para
letras ou humanidades, áreas de emprego escasso. Engrossam assim o rol
dos desempregados. Acresce que os portugueses são diariamente
bombardeados com números que não entendem. Para sorte dos políticos! Se o
povo entendesse o seu real significado, a revolução não tardaria a
chegar.
Estes baixos níveis de literacia matemática implicam consequências dramáticas: mais pobreza e menos liberdade
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